segunda-feira, 28 de maio de 2012

Último reunião do grupo de estudos!

Próxima segunda acontecerá nossa última reunião do semestre, com o texto HEILBORN, M. L. e SORJ, B. “Estudos de gênero no 
Brasil”. 

Quem se interessar pelo texto pode entra em contato pelo e-



mail gmesquita.raquel@gmail.com que enviaremos por Email 


uma versão digital!

Desde já, agradecemos a participação de tod@s!




segunda-feira, 14 de maio de 2012

Próximo encontro

Na próxima segunda, daremos continuidade ao texto "Pensando o sexo", a partir do tópico "transformação sexual".

Nas semanas seguintes, continuaremos com calendário proposto no começo do semestre!

boa noite.
Pintura de Pino Danae.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Reconhecimento da identidade de gênero


Congresso argentino aprova lei de identidade de gênero

AFP
BUENOS AIRES, Argentina, 9 Mai 2012 (AFP) -O Senado argentino aprovou na noite desta quarta-feira, por ampla maioria, a lei que autoriza travestis e transexuais a escolher seu sexo no registro civil, confirmando a decisão adotada pela Câmara de Deputados, em novembro.

A iniciativa obteve 55 votos a favor e uma abstenção, ao final de três horas de debates.

A nova lei define identidade de gênero como a "vivência interna e individual tal como cada pessoa a sente, que pode corresponder ou não ao sexo determinado no momento do nascimento, incluindo a vivência pessoal do corpo".

A norma estabelece que qualquer pessoa poderá solicitar a retificação de seu sexo no registro civil, incluindo o nome de batismo e a foto de identidade.

Com a vigência da medida, a mudança de sexo não necessitará mais do aval da justiça para reconhecimento, e o sistema de saúde deverá incluir operações e tratamentos para a adequação ao gênero escolhido.

A medida "dará oportunidades iguais a todos e é consequência da Lei do Matrimônio Igualitário, aprovada em 2010", garantindo que perante o Estado cada pessoa será tratada e tutelada como sente que é", destacou a governista Ada Iturrez, que preside a Comissão de Legislação Geral do Senado.

Argentina, um país amplamente católico, foi o primeiro estado latino-americano a permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a partir de 2010.

Luis Naidenoff, presidente do bloco radical, principal força da oposição, estimou que a lei faz parte de "importantes avanços na ampliação dos direitos que favorecem setores que estavam discriminados".

A senadora peronista Sonia Escudero destacou que a comunidade trans "tem uma esperança de vida de apenas 35 anos, e mais de 90% se encontram em situação de prostituição como consequência da pouca preparação e do abandono precoce da escola".

"As cifras mostram que 95% destas pessoas, em torno de 22 mil em todo o país, não têm acesso aos direitos humanos fundamentais".

Centenas de ativistas de grupos de travestis e transexuais comemoraram o resultado da votação diante do Congresso, em Buenos Aires.

O presidente da Comunidade Homossexual Argentina, César Cigliutti, disse que a lei é "mais um passo gigantesco e histórico em nosso longo trabalho pelos direitos da nossa comunidade".

"As pessoas 'trans' merecem da sociedade o tratamento adequado ao seu gênero 'autopercebido'", destacou Cigliutti.

O interventor do estatal Instituto contra a Discriminação (Inadi), Pedro Mouratian, assinalou que a medida ""é o pontapé para a efetivação dos direitos das pessoas 'trans, promovendo o acesso ao trabalho, à educação, à saúde e à habitação".
PENIS PASSION 

bell hooks argumenta que nossas vidas melhoram quando homens e mulheres podem celebrar o pênis de formas que não apoiem estereótipos machistas. 

Trabalhando num poema inspirado pela alegria de fazer sexo no menor estúdio do mundo sentada sobre um velha poltrona pintada de vermelho onde passo a maior do tempo escrevendo, busco por palavras para descrever a sensação de sentar ao colo da doce luxúria movendo meu corpo para trás e para frente contra o delicioso, quente e úmido pênis de meu amante A. Entre os pênis que vi e toquei neste mundo, o dele é que me dá maior sensação de prazer. No entanto, é difícil encontrar palavras para descrever o prazer que sinto que não perpetuem o convencional pensamento sexista sobre o pênis.

Mulheres encontrando e expressando prazer no corpo masculino durante muito tempo foi um tabu completo. Antes do movimento feminista e da liberação sexual contemporâneos, nós mulheres não falávamos muito a respeito de nossos sentimentos sobre o pênis. Sem dúvida então que quando nós finalmente demos a nós mesmas permissão para falar o que quiséssemos sobre o corpo masculino – sobre a sexualidade masculina – nós ficávamos ou em silêncio ou meramente ecoávamos narrativas que já estavam em uso.

No final dos anos 60 e início dos 70, mulheres heterossexuais ativas no movimento feminista falavam frequentemente de forma corajosa e orgulhosamente sobre o pênis, usando a mesma linguagem de conquista sexista que homens usavam quando falavam de suas caçadas sexuais. Naqueles dias nos grupos de elevação da consciência feminista, nós não somente conversávamos a respeito de como mulheres tinham se tornado mais confortáveis com palavras como “boceta” e “xoxota”. Desse modo, homens não poderiam nos estarrecer ou nos envergonhar ao manejar essas palavras como armas, nós também tínhamos que ser hábeis em falar sobre “paus” e “pintos” com a mesma facilidade. A liberação sexual já tinha nos dito que se quiséssemos satisfazer um homem tínhamos que nos tornar confortáveis com “chupetas”, de ir fundo com o pau em nossa garganta até o ponto que machucasse. Desistindo de nossa agência sexual, tínhamos que aceitar a dor a fingir que ela era na verdade prazer.

Intervenções feministas sobre a questão da sexualidade, junto com sofisticadas formas controle de natalidade, mudaram isto. Era dito as mulheres que queriam ficar com homens que nós tínhamos o direito de definir o lugar do prazer para nós e a vontade de afirmar nossos direitos sexuais. Isto nos fez entender que não tínhamos que consentir com a força ou fingir apreciar dor. Isto nos fez entender que o pênis não era uma cobra de um olho só saindo do bolso de uma calça no jardim do júbilo sexual, ameaçando transformar nossos corpos em um lugar em que a dor define, penetra e pune. Não precisávamos vê-lo [o pênis] como inimigo.

Como muitas jovens que chegaram à idade naquele intenso e extasiante momento quando liberação sexual e movimento feminista convergiram, eu também deixei de lado o medo do pênis que assombrou minha infância. Esses medos estavam enraizados não em inveja do pênis ou do corpo masculino, mas na raiva de que ele tinha que ser temido. Naqueles dias a mensagem sobre o corpo masculino que mulheres recebiam alto e claro era que, quisessem ou não, a penetração poderia mudar a vida de uma garota para sempre. Ela nunca mais seria a mesma; ela nunca seria boa/pura outra vez. Lembro-me da pura felicidade que o controle de natalidade nos ofereceu. Ele significava que não tínhamos que temer o pênis. Podíamos aceitar nossa curiosidade sobre ele, nossas dúvidas e nossa paixão.

Quando garotinha eu pensava no pênis como uma varinha mágica. Mágica porque ele poderia se mover e mudar a sua forma; sementes poderiam sair dele e chegariam a vida dentro do corpo de uma mulher. Eu só tinha visto o pênis de um bebê – não era inveja que eu sentia, mas curiosidade. Eu temia por ele e sua varinha mágica, tão exposta, tão fácil de ferir e machucar. E como tantas garotas já testemunharam, eu estava aliviada que meus genitais femininos não eram para fora, expostos, visíveis.

Este senso de fascinação e apreciação infantil do pênis mudou quando avisos sobre o perigo sexual e a ameaça que o corpo masculino destruiria a inocência feminina tornou-se a norma.  Naqueles dias não havia nenhuma discussão sobre paixão feminina. Em meu imaginário sexual a varinha se transformou em arma, somente homens a usavam para nos rebaixar, nos destruir.

Sem dúvida que mulheres se maravilharam quando controle de natalidade e a insistência feminista sobre agência sexual feminina tornaram possível para nós refletir sobre o pênis de uma nova forma. Nós podíamos vê-lo como  um instrumento de poder e/ou prazer. Podíamos nos abaixar entre pernas masculinas, nos abandonarmos em mistérios e levantarmos saciadas e satisfeitas com o entendimento que podíamos dar e receber prazer sexual. Podíamos expressar nosso incomodo em expressões como “chupetas” (blow job), a qual assumia que toda vez que chupássemos um pinto isso era uma espécie de trabalho que fazíamos somente para agradar aos homens.

Uma geração posterior, mulheres vivendo na nova cultura de liberdade que o feminismo e a liberação sexual produziram, iriam de início abordar o pênis ausentes de medo. Escrevendo sobre a chegada ao poder sexual na sua puberdade emPromiscuitiesNaomi Wolf se recorda como rapidamente ela e suas amigas deixaram de pensar em “chupar pintos” como algo estúpido para passar a um interesse apaixonado: “Dentro de um ano, nós estávamos obcecadas. Nem tanto com o pênis em si... mas muito mais com o que eles eram – a improbabilidade deles, a bela bizarrice, a maneira que eles estranhamente cresciam por vontade própria e estranhamente desafiavam a gravidade, sua insondável responsividade.”Mas a conversa feminina sobre fascinação com o pênis frequentemente se limita as recordações da infância e puberdade. Não porque cessa-se de se encantar, mas porque os aspectos de encantamento do pênis perdem seu charme quando vinculados a estratégias de dominação masculina. 

Embora feministas contemporâneas tenham trabalhado duro nos anos 70 para chegar a novas maneiras de falar a respeito de agência sexual feminina em relação ao pênis, novas palavras não caíram no uso geral. Mulheres individualmente davam engenhosos e bonitinhos nomes aos pênis de seus parceiros, mas no final de tudo, não houve uma revisão largamente aceita de como nós todas poderíamos ver e experienciar o pênis.

Naquela época e agora, mulheres falam sobre como as palavras usadas para descrever a genitália feminina são muito mais variadas e interessantes do que aquelas usadas para descrever os genitais masculinos. Lendo muita literatura erótica, tantogay como heterossexual, fiquei decepcionada ao descobrir que ao final das contas, o pênis é ainda representado como uma arma, como um instrumento de indelicada e dolorosa penetração. Pensado em termos de força, seja em descrições de sexo consensual prazeroso ou sexo forçado e bondage (servidão/dominação), nenhum deles parece ter muito a dizer sobre o pênis que questiona e transforma a representação sexista. Identificar o pênis sempre e unicamente com força, como sendo um instrumento de poder, uma arma primeiro e acima de tudo, é participar no reverenciamento e perpetuação do patriarcado. É a celebração da dominação masculina.

Sem dúvida então que enquanto o feminismo progrediu, muitas mulheres anti-sexistas sentem ainda que não há formas de engajar o pênis que não reforcem a dominação masculina. Enquanto muitas feministas num ato político escolheram o lesbianismo ou o celibato como uma forma de resistir a subordinação sexual sexista e, consequentemente, não tem interesse no pênis, aquelas de nós que apreciam a paixão pelo pênis frequentemente nos encontramos silenciadas pela suposição que a mera nomeação de nosso prazer é traiçoeiro e apoia a tirania do patriarcado. Isto é simplesmente um erro lógico. Submeter-se ao silêncio nos torna cúmplices. Nomear como nos comprometemos sexualmente com corpos masculinos, e mais particularmente o pênis, em formas que afirmem a igualdade de gênero e posterior liberação feminista de homens e mulheres é um ato essencial de liberdade sexual.

Quando mulheres e homens podem celebrar a beleza e poder do falo em formas que não apoiem a dominação masculina, nossas vidas eróticas são melhoradas. Em um ensaio publicado na antologia Transforming a Rape Culture, escrevi como tive que mudar meu pensamento sexista a respeito do pênis – deixando de lado a fetichização erótica do pinto rígido penetrador, para abraçar uma erotização do pênis que era mais holística. Minha paixão pelo pênis se intensificou quando parei de pensá-lo somente em relação a performance, a penetração. Apreciei aprender como ser sexualmente despertada pela visão de um pênis não ereto.  

Dando continuidade a tradição das primeiras feministas contemporâneas que eram defensoras da liberdade sexual, acredito que ainda precisamos ver mais imagens do pênis na vida cotidiana. Em uma contexto de prazer sexual mútuo enraizado na igualdade de desejo, há espaço para uma política da sexualidade que é variada, que possa incluir pintos eretos/duros,rough sex e penetração como demonstração de poder e submissão, porque estes atos não são intencionados a reforçar a dominação masculina. Mas sem este contexto sexual progressista nós acabamos sempre criando um mundo onde o pênis é sinônimo de negatividade e ameaça.   

O presente risco à vida das doenças sexualmente transmissíveis tem sido usado por conservadores sexuais para reforçar sentimentos anti-pênis. Muitas mulheres voltaram a um temor do pênis que é praticamente vitoriano. A despeito da revolução sexual e da prevalência do pensamento feminista, não foi  necessário muito tempo para que convenções sociais sexistas triunfassem sobre as novas maneiras de refletir sobre sexualidade introduzidas pelo feminismo e movimento gay. A visão do falo, sempre e unicamente, como um instrumento de força é conservadora e falha. Mas ela ainda reina suprema.  Sinto-me desanimada quando leio literatura erótica lésbica onde todos os falos simbolicamente usados no jogo sexual são descritos usando um vernáculo sexista, reforçando a noção do falo, seja ele real ou simbólico, como uma arma. Claramente, nós devemos continuar o trabalho de criar uma fronteira sexual libertária, lugares onde o pênis seja apreciado e estimado.

Mudar a forma como falamos sobre o pênis é uma poderosa intervenção que pode questionar o pensamento patriarcal. Muitos homens sexistas temem que seus corpos percam significado se nós avaliarmos o pênis mais pela sacralidade da sua existência do que pela sua capacidade performática. Depois de um refeição romântica com um homem que capturou meu interesse sexual, enquanto estávamos sentados na minha sala de estar ouvindo música, pedi a ele que me mostrasse seu pênis. Ele respondeu em alarme. Encontrávamos completamente vestidos. Não estávamos engajados em preliminares sexuais, mas o clima era erótico. Ele pareceu alarmado ao pensamento do seu pênis sendo observado fora de um contexto de performance e quis saber porque eu queria vê-lo. Respondi que queria vê-lo para saber se iria gostar dele. Ele perguntou: “Você vai saber se vai gostar olhando pra ele?” Respondi: “Eu vou saber olhando.”

Compartilhei essa história com amigo/as, e todas às vezes homens e mulheres respondiam o quanto duramente eu tinha ameaçado a sua masculinidade. Creio que a noção de ameaça surgiu simplesmente porque eu estava reivindicando a primazia do olhar feminino, uma agência sexual feminina não informada por condicionantes sexistas que separaram prazer, no corpo masculino, da performance do pênis.
  
Retornando para a bem-aventurada noção de sacralidade do corpo, de prazer sexual, nós reconhecemos o pênis como um símbolo positivo da vida. Seja ele ereto ou não, o pênis pode ser sempre uma maravilha, uma vontade, uma varinha mágica. Ou ele pode ser associado a uma lagarta, como Emily Dickinson ternamente afirma: “Tão suave uma lagarta caminha - / Encontro uma sobre minha mão / Que mundo de veludo”

bell hooks é autora de Wounds of Passion, publicado pela Henry Holt and Company.




Texto traduzido pelo pessoal do http://newyorkibe.blogspot.com.br
Aos interessados em estudar Gênero fora do país uma boa sugestão é o programa de pós-graduação GEMMA, que reúne várias universidades europeias, em um programa interdisciplinar que se dedica à pesquisa sobre gênero e mulheres!
http://masteres.ugr.es/gemma-es/pages/programa

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Próxima segunda, terceiro encontro do Grupo de Estudos de Gênero.

texto- Pensando o Sexo: Notas para uma Teoria Radical das Políticas da Sexualidade .
http://www.miriamgrossi.cfh.prof.ufsc.br/pdf/gaylerubin.pdf

domingo, 15 de abril de 2012

INÍCIO DAS ATIVIDADES 2012.1

Amanha, dia 16 de abril de 2012, acontecerá a partir das 10 hs , no NUSS, o primeiro encontro do grupo de estudos de gênero.

O primeiro texto a ser debatido será

"Circulação de mulheres: notas sobre a 'política sexual' do sexo". (Gayle Rubin).

terça-feira, 27 de março de 2012

Primeira travesti a fazer doutorado no Brasil defende tese sobre discriminação

Foto: Arquivo pessoal
Luma, primeira travesti brasileira a defender uma tese de doutorado
Antes de se tornar supervisora regional de 26 escolas públicas e ingressar no doutorado em Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luma Andrade assinou o nome João por 30 anos, foi rejeitada pelos pais na infância, discriminada na escola e, mais tarde, no trabalho.
Na tese de quase 400 páginas que irá defender em três meses, a primeira travesti a cursar um doutorado no Brasil relata a discriminação sofrida por pessoas como ela na rede pública de ensino. Ela também aponta lacunas na formação dos professores.
Criança nos anos de 1970, no município de Morada Nova, a 170 quilômetros de Fortaleza, o único filho homem de um casal de agricultores, era João, mas já se sentia Luma. Em casa, escondia-se para evitar ser confrontada. Na escola, apanhava dos meninos por querer parecer uma menina. Em uma das vezes que foi espancada, aos nove anos, queixou-se com a professora e, ao invés de apoio, ouviu que tinha culpa por ser daquele jeito.
Mais tarde, já com cabelos longos e roupa feminina, sofria de segunda a sexta-feira na chamada dos alunos, ao ser tratada pelo nome de batismo. Não se reconhecia no uniforme masculino que era obrigada a usar. Evitava ao máximo usar o banheiro. Aturava em silêncio as piadas que os colegas insistiam em fazer. “Se a travesti não se sujeitar e resistir, acaba sucumbindo”, lamenta.
Luma se concentrou nos estudos e evitou os confrontos. "Tem momento que a gente quer desistir. Eu não ia ao banheiro urinar, porque eu queria usar o feminino, mas não podia. Então eu me continha e, às vezes, era insuportável”, relembra. Mas ela concluiu o ensino médio e, aos 18 anos, entrou na universidade. Quando se formou aos 22, já dava aulas e resolveu assumir a homossexualidade. Quando contou que tinha um namorado, foi expulsa de casa. 

Em 2003, já com o título de mestre, prestou concurso para lecionar biologia. Eram quatro vagas para uma escola estadual do município de Aracati, a 153 quilômetros de Fortaleza. Apenas ela passou. Contudo, o diretor da escola não a aceitou. Luma pediu a intervenção da Secretaria de Educação do Estado e conseguiu assumir o posto.
“Eu não era tida como um bom exemplo”. Durante o período de estágio probatório, tentaram sabotar sua permanência na escola. “Uma coordenadora denunciou que eu estava mostrando os seios para os alunos na aula”. Luma havia acabado de fazer o implante de proteses de silicone. “Eu já previa isso e passei a usar bata para me proteger, esconder. Eu tinha certeza que isso ia acontecer”.
Anos depois, Luma assumiu um cargo na Coordenadoria Regional de Desenvolvimento de Educação de Russas, justamente a região onde nasceu. Como supervisora das escolas estaduais de diversos municípios, passou a interceder em casos de agressões semelhantes ao que ela viveu quando era estudante.
“Uma diretora de escola fez uma lista de alunos que, para ela, eram homossexuais. E aí mandou chamar os pais, pedindo para que eles tomassem providências”. A providência, segundo ela, foi “muito surra”. “O primeiro que foi espancado me procurou”, lembra. Luma procurou a escola. Todos os gestores e professores passaram por uma capacitação para aprender como lidar com a sexualidade dos estudantes.
Um ano depois, em 2008, Luma se tornou a primeira travesti a ingressar em um doutorado no Brasil. Ela começou a pesquisar a situação de travestis que estudam na rede pública de ensino e constatou que o caso da diretora que levou um aluno a ser espancado pelos pais e todas as outras agressões sofridas por homossexuais tinham mesma a origem.

“Comecei o levantamento das travestis nas escolas públicas. Eu pedia para que os gestores informassem. Quando ia averiguar a existência real do travesti, os diretores diziam: ‘tem aquele ali, mas não é assumido’. Percebi que estavam falando de gays”, relata.
A partir desse contato, Luma trata em sua tese de que as travestis não podem esboçar reações a ataques homofóbicos para concluir os estudos.
Mas também sugere que os cursos de graduação em licenciatura formem profissionais mais preparados não apenas para tratar da homossexualidade no currículo escolar, mas também como lidar com as especificidades de cada pessoa e fazer da escola um lugar sem preconceitos.
“Cada pessoa tem uma forma de viver. Conforme ela se apresenta, vai se comunicar e interagir. O gay tem uma forma de interagir diferente de uma travesti ou de uma transexual. O não reconhecimento dessas singularidades provoca uma padronização. A ideia de que todo mundo é ‘veado’”.
A tese de Luma já passou por duas qualificações. Ela está em fase final, corrigindo alguns detalhes e vai defendê-la em julho, na UFC, em Fortaleza

quinta-feira, 15 de março de 2012

PROGRAMAÇÃO 2012.1

Para este semestre o grupo de estudos de gênero elegeu a antropóloga e ativista feminista Gayle Rubin para ser o foco do debate. A partir de alguns textos chaves de sua obra discutiremos os principais conceitos da autora articulando suas ideias com a de outras teóricas, como J. Butler, M. L. Heilborn e A. Piscitelli.

As reuniões aconteceram às segundas feiras, de 10 às 11:30.
Segue a bibliografia básica.


1.      RUBIN, G. S. The traffic in women: notes on the political economy‟ of sex. In: RAITER, R. (Ed.). Toward anthropology of women. Nova York: Monthly Review Press, 1975.

2.      BUTLER, J. “Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do sexo”. In: LOURO, G. L. (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001, p. 151-172.http://www.ufscar.br/cis/wp-content/uploads/Guacira-Lopes-Louro-O-Corpo-Educado-pdf-rev.pdf

3.      Comentário de Adriana Piscitelli- http://www.scielo.br/pdf/cpa/n21/n21a09.pdf

4.      Thinking Sex: Notes for a Radical Theory of the Politics of Sexuality. Gayle S. Rubin- http://wmst419.drkissling.com/winter2011/wp-content/uploads/2010/12/Rubin1984.pdf
versão em português: http://www.miriamgrossi.cfh.prof.ufsc.br/pdf/gaylerubin.pdf

5.      Tráfico sexual – entrevista* Gayle Rubin com Judith Butler- http://www.scielo.br/pdf/cpa/n21/n21a08.pdf

6.      HEILBORN, M. L. e SORJ, B. “Estudos de gênero no Brasil”. In: O que ler na Ciência Social Instituto de Filosofia e Ciências Humanas